Tuesday, February 24, 2004

Dez de Às (cartada feminina)

Nunca fui bom de números.
Sempre preferi o fascínio da conjugação das letras
às certezas universais que se dizem todas certinhas
como dois e dois serem quatro.
Nunca fui bom de números.
Aos seis anos parecia que tinha quatro.
Aos doze não me davam mais do que nove.
Não me dou com os números. Nunca gostei de fazer anos.
Aos vinte ainda não tinha barba. Aos vinte e cinco afinava sem grande afino a voz.
Aos trinta ia ao cinema sozinho. Aos quarenta e mais que muitos tinha uma manta de xadrez no sofá para me aquecer dos dias frios.
Reprovei três vezes seguidinhas a matemática e acabei por ser professor de portugues-alemão, ainda que nunca tenha conseguido somar o dinheiro suficiente para uma ida digna à Alemanha.
Faço contas para a reforma que não deve tardar e as contas que faço só me fazem acredita que afinal nem todos os dois e dois são quatro.
Não gosto de números, já o disse. Repito. Não gosto de números.
Esta manhã quando andava à procura de umas meias lavadas - de preferência duas iguaizinhas - encontrei uma camisola branca e azul.
Não gosto de números. Duas cores. Branca e azul.
Branca, de corpo, azul, a gola.
Não gosto de números. Cheirava a mofo.
Detesto números.
“Café Boavida” em letras azuis desenhadas no peito.
Dez. 10. O número. Não gosto mesmo nada de números.
Dez. Camisola de craque.
Veio-me parar às costas. Um peso a ditar sentenças numa tarde de chuva.
E eu que só joguei futebol uma vez na vida, num jogo de bairro e porque o Manel Texugo tinha partido um pé numa briga de rua.
Dez. Uma única vez nesta vida sem direito a dois e dois… muito menos quatro.
Quanto mais dez…
Eu, avançado de responsabilidade (é ele quem conta)

Venho com ela nas mãos, em passos lentos, parado no tempo.
Dou-lhe carinho, esfrego na camisola, faço-a girar entre os braços
num ritmo descendente.
Quando toca no chão, já sabe que lhe vou bater, ao de leve, ou com força.
Olha para mim, vê-me a afastar, em passos lentos, parado no tempo.
E agora que estamos frente a frente, já me viu assim, nervoso e decidido, já
me viu com o mesmo jeito antes da euforia ou da frustração. Entre as duas, decido
com ela, à minha responsabilidade.
Fecha os olhos ao ver-me partir, imagina-me alegre ou triste, vá para rede ou para a
bancada... Cerra o semblante quando o pé lhe acerta um murro no estômago.
Amparada pela malha amparou-me a dor.
Eu guarda-redes me confesso (é ela quem escreve)


Tão poucos dos que nos vêem sabem a distancia que nos separa.
Daqui de onde estou consigo ver-te os olhos.
Semicerrados, guardam dentro deles pouco mais do que um segundo de criação,
milhares de vidas que se penduram nas tuas pupilas.
Trazes nos olhos que consigo ver à distância que estou de ti,
a vontade de gente que não conheces e que desespera um encontro feliz
com o destino vaidoso que querem agarrar depois deste segundo que o relógio
fez o favor de parar enquanto eu te vejo.
Tens medo de mim.
Sabes que eu sou feito dos mesmos olhos que tu és feito,
que guardo comigo tardes e noites felizes com aquele aroma
tão próprio de gente que se agarra às minhas pupilas
da mesma forma que se agarram às tuas. Sabes que eu não me guio pelas leis imutáveis das máquinas.
Sabes que eu sou imprevisível, até para mim.
Tão poucos dos que nos vêem neste preciso momento sabem a distância que nos separa.
Vejo-te os olhos. E eles não. É essa a supremacia que guardo deste segundo que o relógio fez o favor de parar.
Tenho medo.
Um de nós vai deixar afogar milhares de vidas que se agarram esperançadas a este baile de incertezas.
Tenho medo, porque sei que também tu não segues as regras do sempre assim.
Também tu podes neste preciso segundo piscar-me o olho numa avalanche de gente.
E afinal, tão poucos deles sabem a verdadeira distância que nos separa. Mas eu sei.
E consigo ver-te os olhos. Eles não. Chamam por ti, chamam por mim, amam-nos
e no mesmo segundo atiram-nos para a fundo deste adeus
que dura pouco mais do que um segundo e que o relógio fez o favor de parar.
Onze metros. Onze metros de vaidades e de amor.
Um 1 mais um 1, o encontro dos caprichos possessivos.
Onze metros e eu vejo-te os olhos.
E tão poucos dos que nos vêem sabem a distância que nos separa.

Monday, February 23, 2004

Baliza que perde (a menina escreve)

Hoje decidi dormir contigo. Abro-te o fecho do meu vestido de sempre, branco.
Entrego-me sem o pudor que a cor do manto que trago me obrigaria.
Por noventa minutos apenas quero sentir-me suja de certezas. Porque não as há. Não as tenho.

Vejo-te correr na minha direcção e hoje, durante os 5400 segundos que se seguem,
não vou dizer-te que não. Não sei como me sentirei amanhã. Talvez sinta o peso das imoralidades,
os olhos pesados de quem a todo custo me tentou defender de ti, mas pouco me importa
o amanhã se hoje me apetece ser tua.
Porque não acredito nas certezas certas que os homens definiram para mim,
na inevitabilidade de resultados de uma vida que querem que eu obedeça.
Pelas leis de quem me ama por me defender, hoje vou pecar. Diante de todos.
Quero lá saber se amanhã me vão maldizer.
A noite é minha e tua. Sei que vais chegar nos pés de quem me usa unicamente para se auto-satisfazer.
Mas para além das tácticas dos homens, das palavras, do depois de depois,
o que me importa é que esta noite te vais aninhar no regaço quente que guardo para ti.

E enquanto eles, os que te empurraram até mim, festejam eufóricos a sede concretizada
que os trouxe até aqui, eu rezo baixinho para que esse egoísmo dure e se esqueçam de ti. 
E assim, te deixem um bocadinho mais dentro deste meu corpo, no silêncio suave de um  
arrepio que só nós, eu e tu, só nós os que vivemos para dar prazer, entendemos.

Esta noite, abro-te o fecho do meu vestido de sempre, branco. Amanhã logo se vê.  

Saturday, February 21, 2004

Baliza, diz ele

Podia tão bem ser uma noiva, alta como sou, larga de ancas, há quem goste.
Podia ser e não sou. E não é pelo véu nestas costas que algum dia o hei-de ser.
Lá ao fundo, à minha frente, vejo outra como eu. Iguais, que nos dizem gémeas,
mas não somos. Deram-lhe vida duas horas depois de mim.
Só a vejo, não a sinto e também nunca lhe falei.
Frente a frente, em silêncio, somos euforia, desespero,
somos vida, somos morte... Terra de ninguém.
Loucos, os homens, assim nos atacam, como nos defendem, a meias de cada vez.
Hoje decidi mandar eu. Não deixei que me entrassem e tanto te vi ser entrada.
Deveria estar contente, a ver-te violada, só que aqui, a alegria é nada e sorrir seria
abrir-me.
Por mais que ame a bola, não quero que entre em mim, a não ser... a dos donos
desta casa. Porque amar a bola vinda deles faz um filho salvador. O messias,
dito golo, aquele por quem clamam as multidões.
Hoje fechei-me em meia parte aos da casa. Perdoa-me, porque pequei.
Pagas-te por mim até ao fim, ao pontapé e de cabeça e até um foi com a mão.
Não sorri, já te disse... e também não chorei.
Hoje eu, amanhã tu...
Podiamos tão bem ser duas noivas, altas como somos e largas de ancas, há quem goste.
Podiamos, mas não somos... num dia virgens, noutro putas.

Thursday, February 19, 2004

Solteiras contra casadas (por Ela)

Maio. Era uma tarde de Maio com o sol amarelo e redondo como todas as tardes de Maio que me recordo. Cinco contra cinco. Os sorrisos rasgados, “vamos lá ver quem ganha.”
O arbitro apitou, lembro-me que o vi a chegar cansado e pesado com a barriga e os anos, o arbitro, que por acaso era e é nosso tio. Priuuuuuuuuu….
E o jogo começou. Bola ao centro, dás-me um toque levezinho, eu domino com o peito do pé, também não era muito difícil, e passo para a Inês. Ela corre, corre, mas a Manuela aparece-lhe pela frente, acena-lhe com um conjunto inteirinho de panelas, um “trem” de cozinha e coitada da Inês, perde a bola. Ohhhhh!
Mas tu sempre foste muito boa a correr e não deixaste a coisa por menos, num passe digno de jogador de milhões, retiraste-lhe a bola com mestria e gritaste “Ana!!!!!!!”. Eu levantei os olhos, estava um céu azul e um sol amarelo e redondo. Ouvi-te “ Ana!!!!”, parecias estar muito longe à porta de casa a chamar-me para irmos brincar às escondidas numa outra tarde de um outro Maio. “Ana!!!!!!!!!!!”, eu corri, corri, fiquei paralela a ti, passaste-me a bola e eu segurei-a com o pé direito, vi-te a desmarcar e olhavas para mim à espera que te retribuísse a bola como quando corria para tua casa feliz com o presente de aniversário que todos os anos demorava um mês a escolher para te surpreender.
Vi-te sorrir na expectativa de abrir o embrulho, mas já lá estava a Cristina na minha frente e roubou-te o presente. Olhaste-me como quem diz “isso assim não dá!”, e senti-me envergonhada, acho que corei, (não sei bem se foi por causa do tal sol de Maio, ou por ter perdido a bola), pedi-te desculpa, disseste-me que assim não, que assim não podias ser mais minha amiga, mas eu não compreendi. Porque razão o Pedro não podia ser também meu namorado? Só porque ele já tinha sido teu namorado antes? Primeiro também, mas com o verbo conjugado no passado? E ambas sabemos que o passado é passado e vive no tempo perdido.
Golo. Ohhhhhhhhh! Foi delas.
Vi outra vez os teus olhos de repreensão, azuis como o azul do céu em Maio, deste Maio, iguaizinhos aos de outro Maio passado.
Corri, corri, ganhei a bola, pensei que uma amizade não acaba por causa de uma bola perdida a meio campo. A Manuela com o trem de cozinha ficou para trás, passei a Cristina, a Eva e a Paula.
Olhos altos enquanto te ouvia sorrir e brincávamos no rio, na piscina, ajudavas-me a fazer os trabalhos de matemática, eu ensinava-te as teorias de Platão, abraçavas-me feliz no primeiro dia de Universidade, corávamos quando contávamos as primeiras das primeiras vezes das descobertas mágicas dos corpos, com o primeiro dos primeiros amores, (que por acaso até foi o mesmo e que naquela tarde de Maio estava sentado na “bancada” a assistir ao jogo), o campo parecia uma estrada larga feita para os meus pés, a bola um cachorrinho obediente.
“E afinal”, dizias-me “ a minha mãe nunca iria gostar do Pedro. Tenho que arranjar um moço certinho como o Zé.”
E agora que o Pedro está na bancada a ver jogar a Manuela com o seu trem de cozinha, a baliza está muito perto e acho que vou marcar golo. No próximo jogo vais-me fazer falta do meu lado direito para me passares a bola, porque afinal a tua mãe gostou mesmo do Zé e no próximo Maio já vais estar do outro lado. Golo!!!!!!!!!
Solteiros contra casados (Colecção para Homem)

A publicidade inventa frases para conceitos, frase intemporais, muito
para além do prazo de validade de uma ideia. Quando alguns de nós eramos putos,
outros crescidos e uns quantos ainda não tinham nascido, uma voz dizia, repetidamente,
na televisão ou na rádio: "para o homem que sabe sempre o que quer".
O homem não sabe sempre o que quer, sabe o que quer às vezes, independentemente da idade
ou estado civil. Sabe sempre que quer mulheres boas, uma mulher para mãe dos filhos e futebol.
No resto, domina a incerteza e os dias ganham-se com mais ou menos inspiração, neste ou naquele
momento.
E sendo assim, não digam mais "solteiros contra casados", queiram preferir, solteiros com casados.
O joguito da bola, pressupõe antagonismo, mas neste particular é apresentado como desculpa
perfeita para deixar as gajas longe da vista e aperitivo à noite de farra (jantar, copos e gajas que
não as de todos os dias). Resultado final: ganham (mesmo) as duas equipas. É sempre que o homem quer.

Thursday, February 05, 2004

Do arco da bola

Carlinhos deixou a escola, por necessidade ou por talento nos pés, aos 10 anos.
Só teve espaço para quarta classe, com sacrifício.
Além disto, não quis, não pode, foi o destino, estava para ser assim.
Está um homem feito e as duas décadas entretanto quiseram-no
maduro e ponderado. Sabe da vida e... por ela. Alinha mais de duas frases
em economia, agricultura, ciência, medicina ou indústria.
Fez bem ao tempo que o tempo lhe deixou livre.
As tardes longas e as horas tantas fora dos treinos consumiram livros
indicados por ele à medida da curiosidade do dia-a-dia.
Amanhã não joga mais à bola e nos amanhãs que se seguem também não.
Dali até à baliza são 25 metros, mais para a esquerda. Estão 8 na barreira, o que
espera mais atrás entre os postes tapa a baliza a Carlinhos com os corpos à frente.
Três passos atrás, mão direita no suor do rosto, agora as duas nas ancas.
Pé na bola, à volta de todos, o voo do último é deseperado e curto. Entrou.
Adeus Carlinhos!
A ciência dir-te-à por a + b que a potência do remate, aliada à deslocação do corpo
e à colocação do pé, o peso y da bola e velocidade x do vento conduziram o
chuto, imaculado, entre a trave e o poste.
Para ti foi instinto...Um golo do arco da bola.

Wednesday, February 04, 2004

O Processo

Disse-me, e não foi um amigo de um amigo meu, foi um desconhecido.
Disse-me: "existem dois dados fundamentais. A fórmula para ganhar e
a justiça.
Este segundo conceito é uma teia de extremos: extremamente limitado,
extremamente difícil, controlado, cheio de respeito, para contigo e para com
todos. Até pode ser um conceito vencedor, só não é para todos os dias
e muito menos para todos os anos".
Sussura: "a fórmula para ganhar é o que o próprio nome diz. Chama-lhe
água turva se quiseres, mas acompanha com rigor os contornos da justiça,
ultrapassando-os. Não custa nada, a não ser dinheiro e/para as pessoas certas.
E nem sai caro, se pensares no lucro acumulado com a vitória, estás a ver?"
Estou... Estou a ver que não ganho.
Lição nº 1

Sumário: apesar de jogo colectivo, é essencialmente egoísta

Tuesday, February 03, 2004

A parte de trás do pé

Em diversos momentos na vida, ouvimos, por este ou por outro motivo: já está tudo inventado.
Uma sentença taxativa por excesso. Desarmável como tantas verdades absolutas, tal como na
história a seguir.
Ao movimento à rectaguarda das patas dos animais, achou-se por bem dar o nome de coice. Uma
escolha rude, à semelhança do gesto.
No jogo da bola, nos cantos, nos livres, mas sobretudo quando o árbitro não vê, alguns
iluminados concluiram que a parte de trás do pé tem utilidade: para intimidar o defesa que atrás
belisca onde pode e como pode.
Afoitos, no primado da técnica, os brasileiros apercebem-se que a parte de trás do pé também joga.
Abrem a boca aos oponentes e escondem-lhes a bola em passes de mágico.
Até que um dia, um argelino, não lembraria ao diado, mas um argelino entre a espada e a parede,
a baliza e a defesa, sem poder fazer mais nada, inspirado no instinto, chuta pela primeira vez com
a parte de trás do pé. E pareceu fácil.



Monday, February 02, 2004

Jogo aéreo

Alto e pára o baile! Acabado de entrar, o primeiro suplente utilizado, Ernesto, 1 metro e 59,
vai em corrida desenfreada para a grande área. O cruzamento espera o suficiente.
A tempo de levar a bola demasiado alta para todos, menos Ernesto, pé esquero na meia lua,
cabeça na bola em cima da marca de penalty, os dois pés no chão, os dois olhos na rede, ela abana
e a bola quieta no chão já levantou as gentes das cadeiras.
Porque tudo tem de ter um porquê, a análise na semana inteira a seguir, conclui: grande poder de elevação.
A conclusão é para o mais pequeno dos jogadores em campo.
Todos invejaram Ernesto, todos os companheiros de profissão, todos os adeptos incluindo os adversários,
e até mesmo todos os dirigentes. Todos gostavam de ter o poder de elevação de Ernesto.
OS PÉS PELAS MÃOS

Parece que tem uma mão naquele pé esquerdo. Quando dito assim, soa a elogio,
enaltece uma capacidade de tacto para além do comum, numa zona do corpo pouco
dada a sensibilidades, a não ser na planta.
A frase era mais ou menos, parece que tem uma mão naquele pé esquerdo,
e descrevia Maradona. Falava do pé que em pequeno controlava laranjas com perícia, apoidado
no direito, cochinho, subindo degraus.
Já que em português no entendemos, juntar os pés com as mãos é sempre sinal de confusão.
E Maradona é a excepção que confirma a regra. Neste exemplo e noutros também.
Futebol, aportuguesado do inglês, e que nesta origem de forma minimalista é pé e bola,
joga-se por cá muito com as mãos. Há sempre um braço no ar, preparado para atirar a pedra.
Todos atiram, todos são atingidos. Ninguém se apercebe, tudo passa.
Dentro da normalidade, porque ninguém tem vergonha. Também não se pode ter o que não se conhece.
As palavras leva-as o tempo. Numa sociedade de esquecimento instantâneo.

Tal como o mundo

Poderá ser que passados mais de cem anos, o jogo seja incompreendido?
Os continentes não responderam todos da mesma forma ao apelo cronológico do passatempo, paixão, desporto, obsessão, profissão, negócio, negócio, negócio. A bola que joga com os pés, abreviado, futebol. Diz-se ser modalidade de Inverno. Nem pensar nisso. Desenvolveu-se (desenvolve-se, evolui) ao longo do equador, sem fugir dos trópicos e nem sempre.
Na relação pessoa/bola, amor correspondido, eterno, do género "e viveram felizes para sempre", só na europa do sul, mais algumas excepções no centro e nas ilhas britânicas. Só no sul da américa e não em todos os países, se calhar só mesmo em dois. Em África sem maldade, algum jeito e atraso. Por alguns anos no gelo do comunismo. Muito latina e nada asiática.

Assim como passaram séculos antes de o mundo ver a forma redonda que tinha, passaram mais de cem anos a evoluir o amor pelo brinquedo, sem descobrir a verdadeira forma do mesmo e a verdadeira forma de tratar, tocar, passar, dominar. Sem dar conta se o momento é certo para carinho ou violência, para força ou jeito, para trás ou para a frente, para um lado ou para o outro. Se instinto, se raciocínio. Quem gosta, gosta a sério. Vai atrás, faz quilómetros, vê com uma cegueira impossível de medir, consoante o caso, está bem, mas com uma cegueira impossível de medir. O branco é branco, mas também é preto, depende do lado por onde se olha.
Ganhar a vida a dar uns chutos na bola não é para todos. Todos os que ganham a vida a dar chutos na bola sabem de cor como se faz? Nada disso e antes pelo contrário. Há milhões que o fazem e 90% faz mal. Está muito, muito longe de ser redonda para todos. Isso é inaceitável. Os antigos tinham a desculpa de não saber a forma do mundo porque nunca o tinham visto do exterior, a uma certa distância, e nem precisaram de tanto para descobrirem o contorno exacto. Estes modernos da vida atractiva, sabem a linha que bola faz até fechar, sabem porque a veêm. Porque lhes disseram e ensinaram. Ganham dinheiro com ela e ela é quase sempre de outra forma que não redonda.