Monday, November 08, 2004

Clássico
(ela)


Duas horas menos dois minutos. Passo o guardanapo pela boca. Duas horas menos um minuto. Levanto o dedo. Duas horas. « A conta, por favor!». Sem favor trazem-me a conta. Pago. Duas e cinco. Já estou do outro lado da porta. Duas e dez. Chega o nº44:Baixa. Metro. Duas e vinte e dois. Metro outra vez. Rua do Passeio Triste. Duas horas e trinta. Chego. Encosto-me na cadeira. Ajeito a gravata. Passo a mão pela testa, pela cabeça, pelo cabelo. Um registo, dois registos, três registos. Uma certidão de óbito, duas certidões. Três de casamento, quatro de divórcio. Quatro e meia. Um cigarro. Quatro e trinta e dois. Acabou o cigarro. Sento-me outra vez. Quase cinco. Quase quase cinco. Cinco. Cinco horas. A rua está cheia. Eu esvazio-me aos poucos a caminho de casa. A casa. A minha casa. Cheira a molhado. Não chove, mas já choveu e eu tenho por hábito guardar sempre a chuva dentro de minha casa. Seis horas. Faço o jantar? Faço. Sopa. Bhammm... Oito. Sento-me no sofá. Ajeito os chinelos. Xadrez. São de xadrez os meus chilenos. Oito e pouco. Oito e pouco. Oito e pouco. Oito e meia menos pouco. Oito e meia menos pouco. Oito e meia. Uf. Marca? Marca? Ganho? Ganho? Vai? Vai? Dez menos pouco. Dez menos pouco. Dez menos um quarto. Desligo a televisão. Dez horas. Desligo a luz. Dez e dez. penso. Dez e vinte. Penso. Dez e meia. Viro-me. Onze horas. Penso. Outra vez. Onze e vinte. Uff.Onze e meia. Ai.Onze e quarenta. Penso outra vez. Onze e quarenta e cinco. Só já tenho mais quinze minutos para pensar. Penso. Meia-noite menos dois. Meia-noite menos um. Meia-noite. Até amanhã.

No comments: