Monday, November 08, 2004


Um homem mete a mão na consciencia.
E tira-a. É pequena e cinzenta. Redonda, jeito de bola. Cheira a queijo suiço. O Homem estremece. Pega-lhe devagar. A mão abre-se e fecha-se, a consciência aumenta e diminui de volume, tipo bola anti-stress. O Homem adapta-lhe as falanges, as falanginhas e as falangetas. A consciência cheira cada vez mais a queijo suiço. Esquece-se o Homem de a pôr ao fresco, apanhar ar. Um rato aproxima-se. Fareja-a. Não a come. Vomita-lhe o cheiro. O Homem fecha a mão outra vez. Guarda-a. Fora da alma a consciência oxida-se. O rato dá meia volta, mete-se na toca. Ali não cabe a consciência. Está salvo o rato. A mão do Homem dá voltas pelo ar. A mão de Deus enfia a consciência colectiva numa baliza branca. O estádio está cheio. O Homem esvazia-se. A noite cai devagar e a mão direita ampara-lhe a queda. A mão esquerda brinca ao lado do coração com a bola cinzenta. O Homem adormece numa migração de consciências e sonha com o rato. O rato aproveita o escuro e sai da toca. Tem fome. Gosta de queijo. Tem mesmo muita fome. E a bola cinzenta está ali, perto, na mão do Homem, cheira mal mas é um alimento, e o rato tem fome. O rato come. Come a falange, a falanginha e a falangeta. E a bola cinzenta solta-se em correrias loucas para dentro da toca do rato.



No comments: