Thursday, December 16, 2004

Um rapaz perdido pela India
(titulo sugerido por um GPS)
(ela)

E no entanto, nunca a tinha deixado. Corria-a em tardes quentes quando o pó subia ao céu azul que ficava ali, entre o chão e ela. As mãos desmedidas, como o são sempre nestas ocasiões, contavam histórias que ele tinha ouvido dos velhos. E ela ria. Fingia que acreditava que as histórias existiam e contava pássaros às gargalhadas de migrações. Os laranjas misturavam-se com os rosas e os azuis e os roxos e os amarelos em encontros prometidos de tardes quentes. Às vezes, a água não se aguentava e em soluços caía do céu. Nessas alturas ele costumava dizer-lhe que ia ser sempre assim: entre dois polos.O fogo e a água. Ela ria. Fingia que acreditava. E depois havia outra vez sol e risos e mãos e histórias. O céu azul, feliz, como devem ser todos os céus azuis, ensinava-lhe o caminho para sul. E ele seguia. Os pernas em forma de arco uniam os mundos que ficavam ali tão longe. Ele espreitava e sentia-a sorrir. Isso bastava-lhe. Perdeu-se. Por ela.

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