Friday, October 15, 2004

Momento
(por ela)



Ao Francisco que se vai dando a conhecer entre letras


Há um momento preciso no preciso momento em que a bola quase toca o pé. Um momento onde o tempo nasce e se iguala à leveza do ar e onde os segundos ficam pendurados à espera de um sopro de nós. Um segundo incontável onde se desenham linhas e angulos quase rectos numa espera inadiável de finais. E de caixas cor-de-rosa saltam duendes de camisolas verdes que saltitam entre pés do pé direito para o esquerdo de homens curvados perante esse tal inadiável encontro. O céu azul, feliz como deve ser o azul celeste, baixa-se em pano de fundo sob o risinho escancarado dos pequenos duendes que com lápis de cor nenhuma desenham mais angulos e mais algarismos numa matemática de contos de fadas. E num enorme balanço de joelhos, quase, quase, quase tocam a bola...mas não. Um duende mais pequeno com medo do frio olha para o branco da baliza enorme que se ri à nossa frente e volta para casa de mochila às costas para o regaço da mãe que o espera com o leite quentinho numa tijela de barro. E eu ali fico agarrado ao segundo que teima em não cair daquele pedaço azul que baila sob mim. O meu pé direito cheio de cocegas, num vai que não vem, num remata que não remata, à espera que eu lhe dê a ordem de capitão, que lhe indique o caminho para esse tal encontro, porque afinal há sempre um segundo por cair em cada um de nós e um segundo é apenas um segundo, tal como uma baliza é apenas uma baliza, um medo apenas um medo, um duende de camisola verde apenas um duende de camisola verde, tal como os poemas são apenas poemas e a vida é apenas isso: vida.

1 comment:

Anonymous said...

Hey... não há direito! Ainda ontem coloquei um post futebolístico acerca de um menino Francisco! Tens de começar a escolher só um nome, porque assim não deixas escolhas a ninguém. Está bem que o "meu" Francisco até podia ser Carlos, ou Marco, ou...

Abraço,
Carriço - «Fragmagens»