Saturday, February 21, 2004

Baliza, diz ele

Podia tão bem ser uma noiva, alta como sou, larga de ancas, há quem goste.
Podia ser e não sou. E não é pelo véu nestas costas que algum dia o hei-de ser.
Lá ao fundo, à minha frente, vejo outra como eu. Iguais, que nos dizem gémeas,
mas não somos. Deram-lhe vida duas horas depois de mim.
Só a vejo, não a sinto e também nunca lhe falei.
Frente a frente, em silêncio, somos euforia, desespero,
somos vida, somos morte... Terra de ninguém.
Loucos, os homens, assim nos atacam, como nos defendem, a meias de cada vez.
Hoje decidi mandar eu. Não deixei que me entrassem e tanto te vi ser entrada.
Deveria estar contente, a ver-te violada, só que aqui, a alegria é nada e sorrir seria
abrir-me.
Por mais que ame a bola, não quero que entre em mim, a não ser... a dos donos
desta casa. Porque amar a bola vinda deles faz um filho salvador. O messias,
dito golo, aquele por quem clamam as multidões.
Hoje fechei-me em meia parte aos da casa. Perdoa-me, porque pequei.
Pagas-te por mim até ao fim, ao pontapé e de cabeça e até um foi com a mão.
Não sorri, já te disse... e também não chorei.
Hoje eu, amanhã tu...
Podiamos tão bem ser duas noivas, altas como somos e largas de ancas, há quem goste.
Podiamos, mas não somos... num dia virgens, noutro putas.

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