Tuesday, February 24, 2004

Eu guarda-redes me confesso (é ela quem escreve)


Tão poucos dos que nos vêem sabem a distancia que nos separa.
Daqui de onde estou consigo ver-te os olhos.
Semicerrados, guardam dentro deles pouco mais do que um segundo de criação,
milhares de vidas que se penduram nas tuas pupilas.
Trazes nos olhos que consigo ver à distância que estou de ti,
a vontade de gente que não conheces e que desespera um encontro feliz
com o destino vaidoso que querem agarrar depois deste segundo que o relógio
fez o favor de parar enquanto eu te vejo.
Tens medo de mim.
Sabes que eu sou feito dos mesmos olhos que tu és feito,
que guardo comigo tardes e noites felizes com aquele aroma
tão próprio de gente que se agarra às minhas pupilas
da mesma forma que se agarram às tuas. Sabes que eu não me guio pelas leis imutáveis das máquinas.
Sabes que eu sou imprevisível, até para mim.
Tão poucos dos que nos vêem neste preciso momento sabem a distância que nos separa.
Vejo-te os olhos. E eles não. É essa a supremacia que guardo deste segundo que o relógio fez o favor de parar.
Tenho medo.
Um de nós vai deixar afogar milhares de vidas que se agarram esperançadas a este baile de incertezas.
Tenho medo, porque sei que também tu não segues as regras do sempre assim.
Também tu podes neste preciso segundo piscar-me o olho numa avalanche de gente.
E afinal, tão poucos deles sabem a verdadeira distância que nos separa. Mas eu sei.
E consigo ver-te os olhos. Eles não. Chamam por ti, chamam por mim, amam-nos
e no mesmo segundo atiram-nos para a fundo deste adeus
que dura pouco mais do que um segundo e que o relógio fez o favor de parar.
Onze metros. Onze metros de vaidades e de amor.
Um 1 mais um 1, o encontro dos caprichos possessivos.
Onze metros e eu vejo-te os olhos.
E tão poucos dos que nos vêem sabem a distância que nos separa.

1 comment:

Anonymous said...

Obrigado por Blog intiresny