Thursday, February 05, 2004

Do arco da bola

Carlinhos deixou a escola, por necessidade ou por talento nos pés, aos 10 anos.
Só teve espaço para quarta classe, com sacrifício.
Além disto, não quis, não pode, foi o destino, estava para ser assim.
Está um homem feito e as duas décadas entretanto quiseram-no
maduro e ponderado. Sabe da vida e... por ela. Alinha mais de duas frases
em economia, agricultura, ciência, medicina ou indústria.
Fez bem ao tempo que o tempo lhe deixou livre.
As tardes longas e as horas tantas fora dos treinos consumiram livros
indicados por ele à medida da curiosidade do dia-a-dia.
Amanhã não joga mais à bola e nos amanhãs que se seguem também não.
Dali até à baliza são 25 metros, mais para a esquerda. Estão 8 na barreira, o que
espera mais atrás entre os postes tapa a baliza a Carlinhos com os corpos à frente.
Três passos atrás, mão direita no suor do rosto, agora as duas nas ancas.
Pé na bola, à volta de todos, o voo do último é deseperado e curto. Entrou.
Adeus Carlinhos!
A ciência dir-te-à por a + b que a potência do remate, aliada à deslocação do corpo
e à colocação do pé, o peso y da bola e velocidade x do vento conduziram o
chuto, imaculado, entre a trave e o poste.
Para ti foi instinto...Um golo do arco da bola.

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