Monday, February 02, 2004

OS PÉS PELAS MÃOS

Parece que tem uma mão naquele pé esquerdo. Quando dito assim, soa a elogio,
enaltece uma capacidade de tacto para além do comum, numa zona do corpo pouco
dada a sensibilidades, a não ser na planta.
A frase era mais ou menos, parece que tem uma mão naquele pé esquerdo,
e descrevia Maradona. Falava do pé que em pequeno controlava laranjas com perícia, apoidado
no direito, cochinho, subindo degraus.
Já que em português no entendemos, juntar os pés com as mãos é sempre sinal de confusão.
E Maradona é a excepção que confirma a regra. Neste exemplo e noutros também.
Futebol, aportuguesado do inglês, e que nesta origem de forma minimalista é pé e bola,
joga-se por cá muito com as mãos. Há sempre um braço no ar, preparado para atirar a pedra.
Todos atiram, todos são atingidos. Ninguém se apercebe, tudo passa.
Dentro da normalidade, porque ninguém tem vergonha. Também não se pode ter o que não se conhece.
As palavras leva-as o tempo. Numa sociedade de esquecimento instantâneo.

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