Tuesday, March 23, 2004

Joãozinho
(visão feminina da vida pouco direita de um extremo-esquerdo)




Era de todos o mais incompreendido.
Joãozinho. Na escola o menino gozado era bom a matemática e mau a português.
Joãozinho, extremo-esquerdo.
Olhos enormes, sorriso feio, feiinho… cabelo despenteado e pele cor de terra batida.
Joãozinho. Não havia conta que ele falhasse. «Dois passes vezes três livres, isso dá…seis remates»,
concluía Joãozinho com o tal sorriso. Tanto que sorria esse menino! E para o caso, sorrir nem sequer era uma vantagem.
Joãozinho extremo-esquerdo não tinha amores, porque as meninas fugiam dele a sete pés.
Não tinha amigos, porque os amores dos amigos fugiam dos amigos de Joãozinho mal o vissem sorrir. E como Joãozinho sorria!
Olhos grandes. Demasiado grandes. Dizia o professor de Geografia que a grandeza das crateras dos vulcões não era nada
comparada com as pupilas de Joãozinho. Indiferente a tudo, Joãozinho sorria. Extremo-esquerdo. Sempre.
Aos domingos depois da missa, Joãozinho corria corria corria pelo lado esquerdo de qualquer lado,
atrás de bolas imaginárias que sorriam para ele, com a boca escancarada em histórias de couro que só Joãozinho entendia.
Joãozinho ouvia e sorria. Indiferente a tudo.
Extremo-esquerdo.
Porque nunca lhe deu jeito ter o coração do lado direito.

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