Monday, March 22, 2004

Segunda-feira todo o dia

É do tempo dos calções em pano e das camisolas grossas em malha quente, de gola justa ao pescoço.
É do tempo das chuteiras pretas, e só dessa cor, do tempo de as amarrar de acordo
com a moda: simplesmente sobre o peito do pé em laço, em duas voltas pelo tornozelo enlaçadas
no tendão de aquiles, em duas voltas por baixo da sola e apertadas em nó curto no peito do pé.
É do tempo das meias simples, não elásticas, do tempo dos atilhos, os fios de apertar a meia
logo abaixo do joelho.
Recorda-se do inverno gelado e do sol quente da primavera aos domingos de manhã.
E da agitação após o jantar das noites de sábado. De deitar-se amarrado às chuteiras com os braços.
De não domir e de ver nelas os golos da próxima manhã.
Aos domingos ela vem sempre, quase da altura do pai.
É mais bonita na primavera e serena no inverno.
Ele é do tempo em que o árbitro só veste de preto. Mal escuta o último apito já está a sonhar outra vez.
Para ele já é segunda-feira. Ela está sentada na esplanada. Dizem olá.
Falam do mundo das camisolas quentes,
das chuteiras pretas e só dessa cor, dos calções de pano. Não falam do óbvio. Sentem e basta.

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