Monday, March 08, 2004

Man of the match
(impressões dedicadamente femininas sobre o tal ultimo dia de um tal resto de vida de um número)



Ora aí está ele. Pé na relva, sorriso sincero, olhar distante.
Foi a mãe que lhe bordou o número que traz na camisola. Um número que obedece à magia do tempo
e vai mudando sem que lhe seja necessário dar mais pontos ou linha.
Amparado às vezes, outras não. Cai, porque qualquer jogador pode cair, levanta-se, porque os bons jogadores
levantam-se rápido.
É assim esse jogador de quem escrevo.
Escrevo apenas umas linhas que nem sequer obedecem a uma regra cientifica nem muito nem pouco certa.
É dia de jogo. Derby. Coisa em grande. Ele contra ele.
Número de camisola contra numero que se advinha. Está quase.
Nos minutos derradeiros de entrar em campo faz o que sempre fez. Supersticioso.
Chama o olhar, encaixa-o nos olhos escuros, debruça-se sobre o QWERT e inventa letras
que se encaixam na perfeição no número que carrega nas costas.
O estádio está cheio. Batem-se palmas, grita-se-lhe o nome. Chovem pipocas.
As pernas tremem-lhe de mansinho, (ele justifica no dia a seguir para os jornais,
jura que foi por causa das chuteiras que lhe ficavam apertadas).
Mexe um pé. Mexe outro pé. Direito, esquerdo, direito, esquerdo.
Ensaia um sorriso, é dia de derby.
Um frio corre-lhe onde às vezes o sangue quase chega a fervilhar.
Entrega-se sem pudor ao jogo. É dia de derby. O olhar já está outra vez lá longe.
É dia de jogo. É dia de derby. É sábado , não é domingo à tarde.

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